Abraham Weintraub deixou o Ministério no final da última semana e já inaugurou uma nova sendo destaque das principais manchetes do país: teria utilizado a prerrogativa do cargo, mesmo após a demissão, para entrar nos Estados Unidos. O ex-ministro corre risco de ser deportado, uma vez que a fronteira do país está fechada para brasileiros, sendo permitida a entrada apenas para funcionários do governo.
Atitude como a do polêmico ex-ministro coloca em debate uma das facetas do governo Bolsonaro: equipe incompetente, incapaz de formular políticas públicas sérias, que se aproveitam de seus cargos para dar respostas a seus interesses individuais.
Além da acusação por fraudar e deturpar intencionalmente uma entrada ilegal, Weintraub é peça fundamental do inquérito das fake news, atualmente em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo da investigação é apurar a difusão de informações falsas e ameaças a Ministros. Bolsonaristas chegam a dizer que o cargo prometido a Weintraub no Banco Mundial serviria para que ele fugisse da prisão, como noticiou o Estadão, no último dia 19.
O nosso ex-ministro da educação, e isto é lamentável, além de possivelmente usar prerrogativa de funcionário do governo após ser demitido e, supostamente, ter espalhado notícias falsas que beneficiariam Jair Bolsonaro, também foi o pivô de uma enorme crise diplomática entre Brasil e China, após ter feito insinuações, em uma rede social, de que a China iria se fortalecer, propositalmente, com a crise gerada pela pandemia do coronavírus. Weintraub também é acusado de racismo por ter publicado uma tirinha com teor de discriminação racial em uma de suas redes sociais.
Não por um acaso, o MEC sofreu de uma letargia profunda por 14 meses: sem propostas claras para a educação básica e atacando, gratuitamente, o ensino superior, Weintraub afirmou, sem provas, que existem plantações de maconha em universidades federais, além de laboratórios para produção de drogas, como metanfetamina, o que demonstra o seu profundo desconhecimento sobre o ambiente das universidades federais, importantes centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, pólos da ciência e tecnologia brasileiras. Talvez a opinião do ex-ministro seja justificada pela sua distância com a educação pública e intimidade com as redes privadas de educação.
Concordo com Priscila Cruz, da ONG Todos Pela Educação, para quem o ex-ministro “produziu muito calor, pouca luz e não deixou marca nenhuma”, conforme entrevista concedida ao canal CNN, na última quinta-feira. Após Velez, que fez alterações esdrúxulas em livros didáticos, orientações autoritárias sobre o Hino Nacional nas escolas e colocou o ENEM sob risco e, por último, Weintraub, que agride verbalmente professores/as, desdenha das universidades públicas e, ao que tudo indica, atua em milícias virtuais, resta saber o que vem pela frente: quem será o terceiro despreparado e incapaz que nos fará morrer de raiva pelo próximo período? Impossível esperar algo diferente.
A educação pública brasileira que lute.
Isley Borges – Jornalista da ADUFU
*Esta seção é dedicada à exposição da opiniao pessoal e das análises profissionais dos jornalistas da ADUFU-SS