Hoje, 26 de junho, a centésima pessoa morreu de Covid-19 em Uberlândia. O primeiro óbito na cidade aconteceu em 2 de abril, há menos de três meses.
Cem vidas! Cem vidas perdidas. Uma centena dos(as) nossos(as) vizinhos(as), dos(as) nossos(as) amigos(as), dos(as) nossos(as) parentes e familiares se foram. Os números que vemos nas notícias internacionais e nacionais deixam de ser “estatísticas” e passam a ter, para nós, nomes, rostos e afetos.
Pode ser aquela senhora que passeava na nossa rua com um cachorrinho engraçado; aquele moço que falava bom dia, com cara de sono, no elevador; o nosso amigo da época da faculdade que fazia os melhores churrascos; a médica atenciosa que cuidava da gente desde que fizemos o plano de saúde; o nosso pai, que significava na nossa vida um amor infinito e incondicional. Estamos perdendo pessoas queridas.
Boletins epidemiológicos divulgados diariamente pela Secretaria Municipal de Saúde informam sobre a proliferação da doença em Uberlândia. Lemos que mais de 6 mil das pessoas testadas aqui estão doentes, o maior número de casos registrados em Minas Gerais, e lembramos que a taxa de letalidade da doença é de cerca de 5% no Brasil. Somos informados que 100% dos leitos de UTI da cidade estão ocupados e pensamos: “Se mais de 5% morrem mesmo com tratamento, quantos vão morrer quando não houver atendimento médico adequado? “
A dor da perda se mistura ao medo pela própria sobrevivência. Nesta semana Uberlândia bateu o triste recorde de oito óbitos em 24 horas.
Fonte: Prefeitura Municipal de Uberlândia
Há três meses não abraçamos entes queridos que não moram conosco. Só saímos de casa para ir ao mercado. Lavamos as compras, no tanque, com água e sabão; jogamos as sacolas no lixo; passamos álcool em gel nas chaves, no cartão do banco, nas maçanetas e até na embalagem do álcool em gel; deixamos as roupas, os sapatos e a máscara de molho. Quando, finalmente, entramos em casa, vamos direto para o banho. Enquanto isso o prefeito Odelmo Leão publica nas suas redes sociais: “Não tenho mais o que fazer”. Será?
Os números do isolamento social em Uberlândia nunca estiveram muito acima dos que haviam antes da pandemia. Não adianta jogar a culpa na população. As políticas públicas implantadas para minimizar a circulação de pessoas e conter a proliferação do vírus não foram efetivas. Estas mesmas regras de isolamento, que já não eram suficientes, foram “flexibilizadas” em 2 de maio. Como consequência, o município se tornou epicentro da doença no Estado, ultrapassando até mesmo a Capital, Belo horizonte, cuja população é cerca de três vezes maior do que a de Uberlândia.
O funcionamento do comércio e de locais públicos só voltou a ser restrito a estabelecimentos e serviços considerados essenciais na última segunda-feira (22). Odelmo afirmou que “Essa é mais uma tentativa de evitarmos o Lockdown”. Reforçando com essa fala que sua preocupação é, principalmente, com a “economia da cidade”.
A tentativa de concluir o ano letivo a qualquer custo faz com que profissionais da área de educação municipal e estudantes corram riscos de contaminação durante a entrega e o recebimento de material didático.
Em entrevista coletiva realizada na última sexta-feira (19), o secretário de saúde do município reconheceu que a situação sanitária de Uberlândia é crítica. “O Prefeito vai fazer a compra de mais 10 respiradores para aumentar o número de leitos, mas, se não reduzirmos o ritmo de disseminação do vírus, a situação pode ficar ainda mais complicada.” Sim, é isso mesmo. Com 100% dos leitos de UTI da cidade ocupados o que temos da prefeitura é a promessa de mais dez (apenas dez) novos respiradores.
Letícia França – Jornalista da ADUFU
*Esta seção é dedicada à exposição da opinião pessoal e das análises profissionais dos jornalistas da ADUFU-SS