Tratamento dado à imprensa e seus profissionais pelo governo Bolsonaro é o mesmo de regimes autoritários
A liberdade de imprensa é um dos vários pilares que sustentam a democracia. Quando Bolsonaro desrespeita, agride verbalmente ou constrange jornalistas, está mirando na impossibilidade do controverso, do questionamento e da diversidade de opiniões acerca de seu governo.
Em sua cerimônia de posse restringiu e humilhou os jornalistas da grande mídia que acompanhavam o evento. Os profissionais, credenciados através das instituições de comunicação para as quais trabalham, foram revistados pelo menos duas vezes, convocados a estarem no local da posse com sete horas de antecedência, confinados em salas sem cadeiras e janelas, com acesso restrito a bebedouros e banheiros e proibidos de portarem alimentos e água, como contou a jornalista Mônica Bergamo. A humilhação alcançou 1.500 jornalistas e muitos deles, sobretudo ligados à imprensa internacional, deixaram a cobertura.
No dia 03 de janeiro, logo após a sua posse, Bolsonaro restringiu a cobertura da imprensa em sua primeira reunião com seus ministros. Apenas a imprensa oficial pôde registrar o evento, sem gravar o áudio das conversas, como mostrou à época reportagem do Jornal Hoje, da Rede Globo. Depois disso, o que muito ocorreu ao longo do primeiro ano de seu governo foram broncas – isso mesmo – broncas dadas por Bolsonaro e seus apoiadores à imprensa: “vocês não têm compromisso com a verdade”, “vocês precisam ser imparciais”, “vocês só divulgam mentiras sobre o meu governo”, “a imprensa brasileira é uma vergonha”, dentre outros absurdos que revelam a sua dificuldade em lidar com o contraditório e a fiscalização.
Mais recentemente, em fevereiro deste ano, Bolsonaro fez uma insinuação sexual de que a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, teria divulgado um depoimento sobre as fakenews e o disparo em massa de mensagens no whatsapp, práticas de seu grupo político, porque “ela queria dar o furo”, como se as informações da jornalista tivessem sido conseguidas a partir de um troca de favores sexuais. A fala foi repudiada por diversos partidos políticos e instituições jornalísticas e considerada uma atitude antidemocrática.
Somada a esta série de desrespeitos à imprensa e aos profissionais jornalistas está a permanente falta de trato do presidente todas as vezes que encontra a imprensa e faz suas avaliações grosseiras sobre os veículos aos seus próprios profissionais. Trata os jornalistas como ignorantes, desconhecedores dos fatos, burros, toscos, incapazes de informar a população sobre os rumos de seu governo. Concordo com Carla Jiménez, jornalista do El País, para quem a estratégia de Bolsonaro é “desestabilizar os repórteres e jornais que possam fazer críticas a sua conduta, de modo a relativizar qualquer notícia negativa”. Utilizando desta artimanha, Bolsonaro deixa a entender que não é o seu governo que convive com problemas, mas a imprensa e os jornalistas que seriam levados a não informar honestamente a população. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) expressa, em nota, que “o novo governo acha-se no direito de desrespeitar uma das regras essenciais das democracias: a liberdade de imprensa”. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) também lançou nota que considera a postura de Bolsonaro assédio moral.
É bom lembrar que governos que atentam contra a imprensa e oferecem poder exclusivo de divulgação de suas ações à sua imprensa oficial são considerados autoritários e ditatoriais. A informação e a comunicação são Direitos Humanos Universais e, quando se ataca profissionais jornalistas e se retira deles a possibilidade de seu exercício profissional, se ataca frontalmente a democracia, a igualdade e os direitos, valores que figuram no slogan da ADUFU – Seção Sindical, que há mais de 40 anos colocou-se na linha de frente das lutas progressistas.
Isley Borges – Jornalista da ADUFU
*Esta seção é dedicada à exposição da opiniao pessoal e das análises profissionais dos jornalistas da ADUFU-SS